Semquenempraque

Wednesday, January 24, 2007

Poema de Cecília Meireles

É PRECISO NÃO ESQUECER NADA

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Tuesday, January 23, 2007

Pequena Miss Sunshine - ou como estamos mais para uma Kombi do que para um Mercedes

Esse filme, foi com ele que eu dei boas risadas esta tarde.
Me fez rir, me fez emocionar, me fez pensar
O road-family-movie conta a história dessa pequena filha que é levada por toda a sua família para o concurso Miss Sunshine. Eles vão em uma Kombi, único meio de transporte que eles tinham e que eles podiam utilizar a jornada deles, boa metáfora sobre o que fazemos-somos com o que temos e o que podemos nessa vida.
Antes de ver o filme pensava que a Pequena Miss Sunshine era a própria Kombi da família, bem que seria um apelido carinhoso. Eu gostei mesmo daquela Kombi, era até ajeitadinha e com um charme desajeitado do seu amarelo claro. Com ela os personagens foram até onde desejaram ir, se surpreenderam com o que não esperavam e se superaram para ela continuar a ir em frente.
Não tinha câmbio automático, assim como a vida da gente onde temos que aprender a dirigir com todos os nossos sentidos, inclusive com os não-sentidos. E é claro, a Kombi não era perfeita, quebrou e não tinha conserto, tinha sim era jeito, jeito de fazer com o que não tem jeito de ser de novo. A kombi sofreu com o peso dos personagens, mas ela conseguiu chegar. Afinal, a razão de ser da Kombi não é se mover apesar dos sofrimentos, das alegrias e descobertas?
Boa viagem, só não se esqueça de abstecer...

Friday, January 19, 2007

Para que serve uma ficção?

Essa é a pergunta que eu ouvi de Contardo Caligaris hoje.
Boa pergunta, não acha. Gostaria de tê-lo feita, e é por isso que eu a repito aqui.
Faço uma versão: o que pode uma ficção?
Uma ficção talvez possa guiar nossos olhos em um trilha que não sabemos onde terminará.
Gosto de pensar nas ficções que nos contaram e que nós contamos para nós mesmos.
Quem eu sou, meus atributos, qualidades, medos e desejos são parte da ficção que fizeram de mim, e do que eu fiz dessa ficção. Ou seja, ficções em cima de ficções.

Friday, January 12, 2007

Palavras: o quanto vale a pena fazê-las

O quanto vale a pena fazer uma palavra?
Em tempos de seca, esta talvez seja uma boa pergunta.
O que é o bastante para uma palavra nascer?
Você pode dizer que muitas coisas merecem uma palavra
Mas eu falo não de qualquer palavra, mas palavra derremada
Palavra vertida em sentimento, emoção, coração
Pat Metheny e sua música merece a minha palavra coração de hoje
Ouvir seus acordes é para mim um privilégio... acorde, a cor de, acorde!
Boa palavra, tá vendo, eu adoro essas coisas que acontecem quando a gente fala.
Acorde! Tudo haver com quem quer voltar a acordar para as palavras vertidas.
Acorde! Acorde! Que a cor de nasce de novo, qual é?
Para mim sempre será azul, azul tarde de sábado, 5:47, vento no rosto, no Farol da Barra.
Boa sensação, vc pode sentir?
Pode deixar o cabelo despenteado mesmo...