Semquenempraque

Tuesday, August 29, 2006

A pedra, a chuva e os barquinhos de papel

Meus adjetivos eram como pedras no meu caminho.
Já tava começando a ficar difícil andar.
Como poder se locomover com um "bom" de dois metros em minha frente.
Estes dias tem chuvido muito. A água da chuva tem dissolvido as pedras.
Elas começam a diminuir e escoar para o rio.
Agora eu posso fazer meus barquinhos de papel.
Já estou vendo a água correr lá embaixo.
Engraçado, a água tá cheia de palavras rolando.
São pedaços de pedra, pedaços de mim.
Deixa elas. Agora elas podem se soltar.
Deixa elas seguirem a correnteza da vida.
Agora me dá licensa que eu vou brincar e aproveitar a chuva.

O fazer é um rio

Na minha mudança coloquei os meus atributos no meu fazer.
Deixei de ser bom, inteligente, sensível, profundo, equilibrado, inseguro, teimoso, pensativo, introvertido, tímido. A este ser estes adjetivos não pertencem mais. Eu os exorciso.
Mas o meu fazer os acolhe.
O fazer é um rio que muda a cada momento. E assim eu coloco os meus adjetivos como o menino coloca o barquinho de papel nas águas para apenas deslizar, acompanhar e admirar.
O rio de minhas ações acolhe os atributos que antes eram meu. Deixa-os correr, deixa-os molhar, deixa-os brincar.
Eu me deixo brincar.
Eu brinco.
E o meu brincar é bom.

O ser é vazio

Essa semana começei uma faxina no meu ser
Na verdade é mais uma arrumação, uma decoração ao estilo clean
Estou esvaziando meu ser, deixando ao essencial: chão, paredes, teto, janelas e porta (ponto).
Cansei de tantos atributos, eram como móveis tentando se combinar a todo custo.
Tal como um quarto bagunçado, meu ser, tinha atributos espalhados por todos os cantos, até debaixo do tapete.
Por isso, estou empacotando meus adjetivos. A decoração implica uma mudança.
Não pense que por causa do novo estilo, vou me desfazer deles dos atributos que colhi, construi e inventei.
Vou apenas reposicioná-los, tirá-los desse quarto e colocá-los em outro lugar: no meu fazer.

Friday, August 25, 2006

Alice,

Seu canto virou poesia dentro de mim.
E por isso eu verti essas palavras para você. Eu te amo.
E isso é uma poesia.
O nosso amor é uma poesia escrita a muitos beijos, toques e suspiros.
Um beijo eu mando para o seu coração.
Essa tarde foi para você, porque hoje pousou um passarinho na minha janela.

A lógica de um amor

Alice canta. Eu adoro um canto.
Eu adoro Alice.

Decoração é uma psicologia das coisas

Decoração é uma psicologia das coisas e Alice sabe disso.
E por isso ela faz mágica, transformou-se e transforma. Ela passarinho.
Ela sabe que a a gente vive no mundo e o mundo vive na gente.
Ela sabe que a gente mexe com as coisas e as coisas mexem com a gente.
Ela sabe que a gente sente e que a gente senta.
Ela sabe que a gente vê e é olhado pelo mundo que nos cerca.
Alice vê e faz.
Alice canta.

Decoração é uma psicologia das coisas

Decoração é uma psicologia das coisas e Alice sabe disso.
E por isso ela faz mágica, transformou-se e transforma. Ela passarinho.
Ela sabe que a a gente vive no mundo e o mundo vive na gente.
Ela sabe que a gente mexe com as coisas e as coisas mexem com a gente.
Ela sabe que a gente sente e que a gente senta.
Ela sabe que a gente vê e é olhado pelo mundo que nos cerca.
Alice vê e faz.
Alice canta.

Alice faz de coração

Alice faz de coração, isso é uma verdade.
Tão verdade e tão poesia quanto o pássaro do seu cabelo.
Alice faz decoração e fazia psicologia. Alice faz.
Alice não trocou de profissão, ela apenas inverteu e com isso ela me ensinou poesia.
Alice, você é poeta das coisas. Co-i-sia. Po-e-sia.
Você co-i-sia de-coração 0 mundo que você vive. E isso é lindo. Você é linda.

Hoje eu vi um pássaro nos cabelos de Alice

Hoje eu vi um pássaro no cabelo de Alice.
Ele tava ganhando asas e logo logo estará levantando vou.
Ele gosta de cantar e com isso deixa mais bonito tudo o que é tocado pelo seu som.
Essa sexta-feira é dedicada a você Alice.

Friday, August 18, 2006

Eu já não sei o que é um sentido de uma palavra

Se as palavras são como coisas, o que é um sentido de uma palavra?
O que é o significado de uma palavra se elas são como objetos dispostos no mundo.
Se elas são feitas para serem usadas, consumidas, comidas, digeridas, montadas, arrumadas, da onde vem os seus significados?
Talvez seja uma questão de forma, de estética. Será que é a estética da organização das palavras que lhes dão o sentido? O que faz um discurso dizer alguma coisa a alguém?

As palavras não têm sentido

As palavras não têm sentido.
Elas têm substância, peso, largura e diâmetro.
Nós é que damos o sentido para elas. Se elas estão para a direita, nós podemos colocar para esquerda. Se estão deitadas, podemos levantadas. Se estão tortas, nós endireitamos. Arrumamos e ajeitamos as palavras conforme seja a nossa vontade, nosso desejo? E se o desejo não é nosso, quem é que dá o sentido então?

Palavras são como coisas

Essas perguntas abaixo são legais para pensar o estatuto de uma palavra. Com quantos paus se faz uma canoa? Com quantas palavras se faz uma alegria? Gosto de pensar isso porque assim as palavras tornam-se quase como coisas. Concretas e sem sentido.
As palavras não tem sentido, somos nós que damos isso a ela. É como um presente. O sentido das palavras são como presentes, ornamentos para deixá-las mais palatáveis. Assim podemos comê-las e depois digerí-las. Bom apetite!

Perguntas

Com quantas palavras se faz uma lágrima?
Um sorriso?
Um desgosto?
Um susto?
Um pulo?
Uma surpresa?
Uma tristeza?
Uma úlcera?
Uma gripe?
Uma alergia?
Um chulé?
Um umbigo?
Um filho?
Uma filha?
Uma barba?
Um vômito?
Uma risada?

Sobre "sex"

Sexo
Sextante
Sexteto
Sexualiadade
Sexuação
Sexto
Sexagenário

Interessante este prefixo. Tem poucas conjugações o sex só pega bem com t ou com algumas vogais. O que será que sexo tem haver com seis. Porque são esses sentidos imbuídos nas possibilidades desse prefixo.
Seis é o número do homem. Seis é três mais três. O que sexo tem haver com três vezes dois?
Será que no sexo há três no lugar de um, ou melhor, seis no lugar de dois?
Quem será os dois ocultos então?

Sobre "ver"

Ver
verdade
vermelho
verniz
vernácula
vertice
vergonha
vermifogo
verve
verso
vertical
verter
versão
verão
verme
vera
verificação
verossemelhança

Mais sobre Mosé

Teve um dos poemas de seu livro "Toda Palavra" que gostei muito. Chama-se "E você?".
Ela fala que as palavras são como uma roupa que vestimos. Tem pessoas que sabem usar as palavras certas para os momentos certos. Tem gente que exagera no estilo das palavras. Tem gente que gosta de usar poucas palavras e outros que são exóticos. Enfim, o que mais achei legal foi a pergunta que encerra o poema: "E você, que palavras você usa para se despir?"
Que pergunta fila da mãe! Só um palavrão para servir de estofo para ela. Puta que pariu!

Pergunta

Uma poesia é feita para ser ouvida?

Sobre corpo e poesia

Gosto dessa idéia que a Mosé trás em forma de poesia.
Nossas doenças são poemas represados, que não encontram vazão.
Sintomas são poemas presos, doidos para se verem libertos, se fazerem poesia e verterem em lágrimas sobre o calor da pele. Sintomas são poesias calcificadas.
Como fazê-las chorar? Como fazê-las verter? Como fazê-los falar?
A quem quer falar um poema-sintoma represado?

Receita para arrancar poemas presos

você pode arrancar poemas com pinças

buchas vegetais. óleos medicinais

com as pontas dos dedos. com as unhas

com banhos de imersão

com o pente. com uma agulha

com pomada basilicão

alicate de cutículas

massagens e hidratação



mas não use bisturi nunca

em caso de poemas difíceis use a dança.

a dança é uma forma de amolecer os poemas

endurecidos do corpo.

uma forma de soltá-los

das dobras dos dedos dos pés. das vértebras

dos punhos. das axilas. do quadril



são os poema cóccix. os poema virilha

os poema olho. os poema peito

os poema sexo. os poema cílio

Viviane Mosé

Viviane Mosé

Hoje fui lavar o carro para ler a poesia de Viviane Mosé.
Foi assim que se desenrolaram os fatos dessa manhã inatural.
Grata a surpresa de encontrar dois de seus livros entre as plateleiras da livraria.
Hoje amanheci com fome de poesia e suas palavras me saciaram.
Mosé escreve com tinta de sangue. Suas veias são vertidas em palavras que viram afeto no outro. E hoje eu fui afetado.
Ela gosta dessas coisas semquenempraque chamadas palavras. Palavras que fazem um mundo e uma vida serem perfilados com um frescor incomun, inatural.

muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos
abscessos tumores nódulos pedras são palavras
calcificadas
poemas sem vazão

mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido poema

pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima

Viviane Mosé

Friday, August 04, 2006

Prefiro o barulho do mar

"-Orgulho, coerência, apego às raízes.
Isso só apenas palavras, os inteligentes sabem disso.
Você deve se lixar para essas coisas
- Tudo são palavras, Dom Lorenzo.
Mas eu prefiro o barulho do mar."

Trecho do filme "Prefiro o barulho do mar". Quantas coisas em meia dúzia de sentenças!
Dizer que tudo é palavra é em si mesmo uma incongruência. Dizer que tudo (sentimentos, pensamentos, amores, paixões, ódio, crenças, fé, princípios) são palavras já é um palavrear.
O que o jovem parece querer apontar é que há a algo que escapa ao domínio das palavras. Algo que tem haver com o barulho do mar. O que é o barulho do mar?
Está ali sem pedir para ser ouvido, sem ter que ouvir nada em troca para poder barulhar, fruto do constante movimento sem destino e sem razão... o barulho do mar é sem razão

Uma tarde cheia de palavras

Hoje tô afim de escrever e fazer uma mágica: transformar palavras em pequenos pedaços do tempo se fragmentando.

Sobre "tor"

Me deu vontade de ver até onde vai esse "tor":

torto
torta
tortura
tortuosidade
torpe
torre
torque
torneira
torpor
tora
torno
torcida
torceu
torrente
torrada
tormenta
tormento
torresmo
torpedo

Psicanálise

Essa psicanálise. Só na experiência consegui me entender com ela. Antes era amarga, blazê, hoje ela tá mais gente, mais ficção também. Gosto de ver a psicanálise meio como uma ficção mesmo, é uma invencionice (baseada no real como todas) que leva a torções do pensamento bastante interessantes para mim. Ela, para mim é meio torta, gosto desta torção, tortuosidade, sinuosidade... deixa lá que depois vem mais

Palavras

Café com leite
Mouse
costas
caneta
papel
calor
tédio
dedos
tempo

Crianças Invisíveis...

Faltou falar sobre elas (invisíveis?). Pois é, gostei desse filme também. Na verdade, filmes. Dois deles me tocaram de modo especial, o de Spike Lee e o dos Scott (Ridley e Jordan). Gosto da cumplicidade que Spike filma seus personagens, a gente assite o drama familiar de um casal e uma filha. Os dois escondendo da filha os seus respectivos vícios em heróina e mais, a soropositividade de ambos e da própria filha. Não precisa falar as condições de vida daquele trio. Bairro de suburbio de NY, ele: ex-combatente do Iraque Vol.1 e ela: descendente de imigrantes da américa latina. Mas o que me chamou a atenção foi como o amor(?) surge também debaixo de tanta fumaça e dor. Quando a filha chega em casa após uma briga na escola, flagra os pais se mutilando com palavras sobre o vírus da AIDS. "Foi você que me infectou e eu infectei ela". Estava ali a verdade que ao ser ouvida pela filha que apenas olha, possibilita que um abraço e ternura possa brotar. Enfim...

Mentiras Sinceras / Crianças Invisíveis

Esse filme, Mentiras Sinceras. Daqueles que com cinco minutos de exibição você sabe que vai ser uma boa experiência de cinema. Começa com um singelo passeio de bicicleta de um senhor por uma estrada de um vilarejo, de repente um carro passa e atinge o senhor que cai na estrada.
Gosto dessas coisas. Quando tudo o que parece singelo e tranquilo de repente não é nada daquilo.
Tem um pouco dessa vivencia quando sonho. Você tá vivendo sua vida tudo certinho, suas alegrias e decepções momentâneas e eis que você dorme e uma revoada de morcegos ataca você.
BUM, eu acordei.

Sem quê nem pra quê

Sem quê nem pra quê

Este blog nasce dessa forma: sem quê nem pra quê. Deixa ele aí, deixa ele crescer ou morrer. Ele vem pra dar voz a inutilidade do cotidiano. Ao que me deixo pegar nessa vida que a gente faz quando acorda de manhã e dorme de noite. Enfim, deixa as palavras rolarem!

oi